Impactos

A disseminação de notícias falsas é facilitada pelo acesso em larga escala a mídias sociais, e seus impactos podem ser igualmente vastos. Mesmo nos casos em que a informação falsa é veiculada por erro involuntário ou com o simples intuito de provocar o humor, elas despertam no receptor uma reação baseada em falsidades, e que por isso mesmo é equivocada. Muitas vezes são divulgadas intencionalmente, com o objetivo de distorcer a realidade e criar uma realidade artificial, buscando induzir o receptor a assumir um determinado ponto de vista que contradiz os fatos.[51][52][53] Nas palavras de Rafael Zanatta, pesquisador da Universidade de São Paulo, "quem as cria promove a mentira e manipula os cidadãos em torno de interesses particulares e desonestos".[54]Numa escala ampla, a proliferação de notícias falsas tende a criar no público uma grande incerteza e desconfiança sobre o conhecimento em geral, passando a duvidar indiscriminadamente de todas as fontes de informação, não sabendo mais identificar a verdade e nem onde buscá-la.[55][54][56] Campanhas deliberadas de notícias falsas são um ataque direto ao direito à informação, e podem desacreditar a grande imprensa, os professores e os produtores acadêmicos de conhecimento legítimo, como os cientistas, historiadores e sociólogos. Podem arruinar reputações sólidas e criar falsos ídolos, podem causar danos a instituições, prejudicar a democracia e a cidadania, fortalecer preconceitos, fomentar teorias de conspiração, e influenciar artificialmente processos políticos, culturais, econômicos e sociais.[52][57][58][54]As notícias falsas repetidas constantemente podem adquirir um aspecto de verdade diante do público, e seus efeitos podem ser persistentes. Estudos científicos mostram que mesmo depois de confrontadas com a verdade, muitas pessoas influenciadas por notícias falsas continuam mantendo opiniões errôneas.[59] O efeito é ampliado porque a psique humana tem a tendência de buscar a confirmação daquilo em que acredita e desqualificar aquilo que se choca contra suas convicções,[53][56] e está sujeita ao "comportamento de manada", ou seja, o deixar-se levar em massa por um influenciador poderoso, sem que as ações passem pelo crivo da crítica e da lógica. Na explicação de Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, "se muitas pessoas compartilham uma ideia, outras tendem a segui-la. É semelhante à escolha de um restaurante quando você não tem informação. Você vê que um está vazio e que outro tem três casais. Escolhe qual? O que tem gente. Você escolhe porque acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso".[60] Um estudo desenvolvido por pesquisadores do MIT, analisando mais de 120 mil sequências de notícias no Twitter entre 2006 e 2017, concluiu que notícias falsas se espalham mais depressa, vão mais longe, atingem mais pessoas e tem uma probabilidade muito maior de serem redistribuídas do que as verdadeiras.[51]As notícias falsas são um componente importante no conceito de pós-verdade, que caracteriza um contexto onde os fatos objetivos têm um menor poder de moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais, e onde qualquer coisa pode se tornar "verdade", conforme os interesses dos indivíduos ou grupos que controlam a informação.[53] Na reflexão do filósofo Janine Ribeiro, "essa tendência traz um elemento triste. Não é apenas falar uma mentira. Ao dizer 'pós', é como se a verdade tivesse acabado e não importa mais. Essa é a diferença entre pós-verdade e todas as formas de manipulação das informações que tivemos antes". Para o professor da USP Eugenio Bucci, referindo-se à esfera da política, "a ideia contida aí é relativamente simples: a política teria rompido definitivamente com a verdade factual e passa a se valer de outros recursos para amalgamar os seguidores de suas correntes. É como se a política tivesse sucumbido ao discurso do tipo religioso e se conformado com isso".[61]É um exemplo do vasto impacto potencial das notícias falsas a negação da realidade do aquecimento global, levando à adoção de planos econômicos que privilegiam o uso de combustíveis fósseis, contradizendo o consenso científico que aponta esses combustíveis como a principal causa do aquecimento.[53] Também influenciaram o resultado das eleições norte-americanas de 2016[62][63] das eleições brasileiras de 2018,[64][65] e o resultado do plebiscito que decidiu a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit),[66][67] apenas para citar alguns exemplos recentes de grandes repercussões.

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